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JÉSSICA

MARQUES

Publicação do Conto Entre Tons

É com muito orgulho que inicio essa sessão do meu site com a notícia dessa publicação de um conto meu na Revista Exclusive <3 !


Como a ideia dessa sessão é demonstrar alguns processos criativos que estou desenvolvendo, ou que já desenvolvi em algum momento dentro da minha formação, preciso dizer que esse texto foi resultado de uma exercício proposto pela Professora Ms. Flávia Péret. A proposta era escrever um conto em que a passagem do tempo de três anos existisse e fosse perceptível durante à leitura.


Deste tema livre decidi revisitar meus insights passados, anotados desde a vivência acadêmica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse retorno me vi pronta para adentrar essa temática do jardineiro e pintor do primeiro prédio que morei que tem (ou tinha, pois não sei mais de seu paradeiro) Vitiligo. Talvez algum de vocês não saibam nem o que significa esse termo. Em poucas palavras é a perda gradativa da pigmentação da pele, geralmente com o surgimento de manchas em todo o corpo. E aprendi com o canal Minha Segunda Pele, pela visão da Bruna, que essas manchas podem ser desenhos, assim como os que nós vemos nas nuvens no céu!


Antes de deixar aqui o texto na íntegra que fiz nesse projeto gostaria de agradecer imensamente a oportunidade que a maravilhosa Letícia Pimentel me presenteou ao publicar essa belezinha na Revista Exclusive nº 83! Depois quem tiver a oportunidade de prestigiar o trabalho belíssimo dessa equipe toda em trazer informações de grande valia para todos sobre vários assuntos.




Uma garotinha de 3 anos, Camilla, cabelos cacheados cor de fogo e cheia de sardinhas, era acordada pela sua mãe todas as manhãs para irem ao parque do conjunto habitacional em que moravam. Para sua pouca idade, esses são os melhores momentos antes de começar a rotina do jardim de infância com seus colegas, onde desenhava dia e noite sem cessar. Com seus óculos fundo de garrafa e seu tampão – todo desenhadinho de florzinhas coloridas – via o reflexo de todas as cores com um encantamento sem igual. Cada tom despertava uma emoção... Todos os dias se via vidrada no efeito da luz sob os objetos e sob as pessoas. Mas entre a “multidão” uniforme que conhecia, Cami se viu deslumbrada por um senhor com cabelos grisalhos e duas peles à mostra: uma rosada, como um algodão-doce do parque; e outra de um branco tão branco que mais parecia uma nuvem do céu.

Na verdade, o corpo dele todo era um grande céu rosa, com aroma de pôr do sol. Ele fazia parte da sua rotina no parque. Todos os dias com um sorriso no rosto, ele a cumprimentava: — Bom dia, menina bonita! E como um raio, Cami corria para debaixo da saia de sua mãe. — Responde pra ele, minha filha. Não fica com vergonha. Ela, entre uma cortina azul-avermelhada rodada, deixava o olho bom arregalado enquanto um sorrisinho de canto de boca surgia antes de responder: — Dia – com um fio de voz que lhe era característico.

Normalmente ele fazia um aceno com a cabeça, coberta por um bonezinho, mas um dia ou outro ele respondia bagunçando o topo de suas madeixas. E logo se separavam. Enquanto ele varria as folhas do chão do parque, Cami fazia rodinha com os amigos para brincar de bolinha de gude com os meninos ou brincar de casinha com as meninas. Dentro dessa rotina, esse pequeno encontro diário com o jardineiro passou a ser o mais esperado de todo o seu dia. Isso porque ela ficava intrigada com aquele ser de duas cores. Era um verdadeiro camaleão... rosa-avermelhado e branco... e, como tal, o Seu Etelvino resistiu ao ambiente árido por muito tempo. Tanto tempo que Cami, já com 6 anos de idade, no seu passeio, agora semanal, pelo parque, passou ao lado do então Jardineiro Bicolor e teve coragem de saciar a sua curiosidade de anos atrás: — Oi! — Oi, menina bonita! Agora você fala? Cami, sem responder sua pergunta, rebateu: — Por que é que você tem duas cores? Sua mãe ficou surpresíssima com a questão e já foi logo repreendendo: — Que isso, menina? Isso é jeito de tratar os outros? Desculpe,Seu Etelvino, crianças, né?Sabe como é… sem papas na língua. E ele abriu um sorriso sem igual para Cami e respondeu: — Sabe o seu cabelo? — O que que tem meu cabelo? — Quando ele tá no sol, ele tem várias cores ao mesmo tempo, que nem essas bolinhas de gude que você tanto brinca. Isso sem contar essas suas sardinhas no rosto. E aí?Quantas cores você tem? — Nossa! Não sei – respondeu uma Cami espantadíssima. — Você é um arco-íris e não sabe – respondeu o senhorzinho e ainda completou – Todos nós somos. O meu arco-íris é só mais aparente do que o seu, porque todo dia chove em mim.


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© por Jéssica Marques

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